Foi realizada na manhã desta quarta-feira, 09, no Plenário da Câmara Municipal de Vitória da Conquista, uma Sessão Especial solene para entrega do Diploma Loreta Valadares, previsto na Resolução nº 41, de 30 de agosto de 2005, que agracia seis mulheres com ações voltadas para o direito e proteção de mulheres em situação de violência. Também foram entregues certificados a mulheres que atuam e prestam contribuição em outras áreas, e que foram indicadas pelos vereadores para serem homenageadas pelo Dia da Mulher.
As homenageadas com o Diploma Loreta Valadares foram: Lusdenes Batista Silva, Lays Souza Macedo, Cristina Donato Rocon, EuLá Jardim, Talamira Taita Rodrigues Brito e Keila Fabiane Souto Dompsin.
Keila Dompsi foi uma das homenageadas com o Diploma Loreta Valadares. Ela é mãe da cirurgiã-dentista Ana Luiza Dompsi, vítima de feminicídio em março de 2021. “Eu ainda não sei o que é o luto, pois continuo vivendo a luta”, declarou. Ela destacou a necessidade de união entre mulheres para que possam avançar com pautas que insistem em tirar a dignidade de todas elas. “E por que essa realidade ainda nos atormenta? Porque não entendemos ainda que somos, de fato, fortes, independente do sistema, dos governos e até mesmo do homem que está do nosso lado. Infelizmente, seguimos com cada um buscando o seu próprio interesse”, afirmou.
Sobre o homicídio da filha, ela lamentou a partida precoce de Ana Luiza e destacou que responde a vários processos movidos pelo assassino, um deles pedindo a prisão dela. “Estou sendo proibida de citar o nome do assassino e, em caso de descumprimento, pago R$ 22 mil de multa. Por determinação judicial, fiquei proibida de ter acesso à cidade de Cândido Sales, onde meu pai mora, só para não aproximar do assassino de minha filha. Eu estou sofrendo abusos, mas eu vou me calar? Não! Vou continuar buscando por justiça”, afirmou Keila.
Ela encerrou o pronunciamento falando da expectativa no desfecho desse processo. “Qualquer que seja a pena que esse oficial da PM receba, ninguém vai fazer ideia da lacuna que a morte da minha filha deixou em mim”, afirmou, relembrando um diálogo que teve com um advogado. “O advogado me disse que são dois defuntos: um deitado e outro em pé. Mas quero dizer que minha filha não é um defunto deitado, pois ela agora vive em mim”, pontuou.
A delegada Lusdenes Batista Silva agradeceu ao Legislativo conquistense pelo reconhecimento ao seu trabalho com o Diploma Loreta Valadares. “Muito obrigada pela homenagem. Enquanto delegada, eu tive muito contato com as mulheres e tentei dar o meu melhor ao exercer o cargo”, disse. Ela ressaltou ainda as dificuldades de se exercer a profissão na polícia. “A gente, como mulher, sofre muita discriminação, mas com firmeza e profissionalismo tenho conseguido exercer a profissão de delegada por todos esses anos”.
A jornalista e perita da Polícia Civil, Lays Souza Macedo, afirmou que em sua atuação como policial busca ofertar o acolhimento adequado a mulheres vítimas de violência, apesar da falta de estrutura da própria polícia para que isso aconteça. Ela denunciou assédio sexual sofrido no próprio ambiente de trabalho, praticado por um colega. Mesmo tendo denunciado, Lays afirmou que não obteve apoio do coordenador e vem enfrentando uma instituição machista, que é a Polícia Civil. A perita explicou que tomou medidas criminais e administrativas e pediu remoção para outra cidade, mas ainda não conseguiu. Lays frisou que se sente ainda mais fortalecida para a luta em defesa das mulheres, para superar a própria dor e acolher outras mulheres.
Cristina Donato Rocon administrou, durante dois anos, de forma anônima, a página Isis Nina, no Instagram, criando um movimento pacífico em defesa da mulher, encorajando-as a denunciarem seus agressores, bem como, encorajando mães a denunciarem os abusos sofridos por suas filhas menores de idade. Ativista, ela lamentou a página ter sido retirada do ar pela justiça e garantiu que a luta pela causa feminista vai continuar.
A professora Talamira Rodrigues agradeceu pela homenagem e disse se sentir representante de todas as mulheres. “Eu me sinto uma síntese da herança de todas as mulheres que estão aqui”. Ela disse também acreditar na construção de uma sociedade mais plural. “Temos estruturalmente construído um machismo, mas temos também uma consciência de que é preciso construir uma sociedade democrática”, finalizou Talamira.
Ao receber a homenagem, a cantora e compositora Eulá Jardim relatou um episódio constrangedor que enfrentou no Dia Internacional da Mulher. “Entrei numa loja com minha filha e fui questionada sobre o meu corte de cabelo e sobre a minha bengala. O proprietário fez vários comentários infelizes e é triste saber que essas experiências se repetem o ano inteiro e o tempo inteiro”, lamentou. Ela pontuou também o desafio da mulher para obter reconhecimento com o seu trabalho, citando exemplos que enfrenta enquanto artista. “Receber essa homenagem não significa que tenha alcançado todas as minhas expectativas. Talvez essa homenagem seja uma forma de dizer: sinto muito por sua dor”, afirmou. Eulá encerrou o pronunciamento dedicando essa homenagem a outras mulheres. “Referencio hoje meus ancestrais, minha filha, minha avó e dedico essa homenagem à minha mãe”, pontuou.
Após a entrega do Diploma Mulher Cidadã Loreta Valadares, foram entregues certificados a mulheres homenageadas pelo Dia da Mulher, comemorado na última terça-feira, 08 de março.