Após nova rodada de conversas, os presidentes dos partidos que buscam uma terceira via nas eleições presidenciais decidiram manter a data de 18 de maio para anunciar uma candidatura única, embora não tenham definido ainda os critérios mínimos para a escolha de um nome.
A decisão a respeito do prazo representa uma derrota para o candidato do PSDB, João Doria, que tentou articular nos bastidores o adiamento para 31 de maio da escolha do representante desse campo de legendas, como mostrou o jornal Folha de S.Paulo —oficialmente, o tucano nega ter pedido para postergar a data.
Segundo pessoas a par das negociações, porém, a intenção de Doria com o adiamento era tentar aproveitar um eventual efeito positivo que poderia haver sobre sua campanha com o início da propaganda partidária do PSDB em rádio e TV, em 26 de abril.
Além do tucano, estão no páreo a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o presidente da União Brasil, Luciano Bivar.
Os presidentes de PSDB/Cidadania (que pretendem se unir em numa federação), MDB e União Brasil reuniram-se nesta terça-feira (26) para discutir a escolha de um candidato único entre essas opções.
O presidente do Cidadania, Roberto Freire, disse que não há veto à participação de Ciro Gomes (PDT-CE) nas negociações.
"Vamos aguardar. Quem sabe, a partir dessa entrevista, ele [Ciro Gomes] possa se animar e não tenha dúvida que nós aqui não estaremos também desanimados", afirmou Freire.
O candidato do PDT, que também tenta se contrapor às candidaturas de Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Lula (PT), teve conversas isoladas com representantes da União Brasil e disse que não descarta participar das negociações com a terceira via.
Os dirigentes partidários já se reuniram ao menos outras duas vezes, quando definiram um prazo para tentar anunciar a candidatura única, mas ainda não chegaram a parâmetros mínimos para a escolha do candidato.
"Não há consenso entre nós ainda em relação a critérios e percepções políticas internas de cada partido", afirmou o presidente do PSDB, Bruno Araújo.
"Hoje, depois de uma longa discussão, nós reafirmamos a vontade de definimos que a data do dia 18 de maio está mantida para que a gente possa fazer todos os exercícios necessários de diálogos, consultas às nossas bases partidárias", ressaltou o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP).
Presidentes dos partidos citam como parâmetros que podem ser levados em consideração o desempenho em pesquisas qualitativas e quantitativas, além de patamares de rejeição, mas ponderam que não há consenso sobre os pré-requisitos para escolha de um nome.
Há no grupo quem rejeite Doria na cabeça de chapa devido à alta rejeição nas pesquisas de intenção de voto.
Segundo a última pesquisa Datafolha, 30% da população não votariam em um candidato ao governo paulista apoiado pelo ex-governador.
Além da decisão dos partidos de manter o anúncio da candidatura única no dia 18 de maio, Doria teve outro sinal de isolamento nesta semana. Os partidos da chamada terceira via desmarcaram um jantar que ocorreria na segunda-feira (25) na casa do tucano e agendaram uma nova rodada de reunião para esta terça-feira, sem a presença dele e dos demais presidenciáveis do grupo.
Aliados de Doria negam que tenha havido reveses para o tucano e afirmam que ele tem chances de ser o escolhido, assim como Bivar e Tebet. O foco da equipe do tucano é na definição de critérios para a escolha —Doria está à frente dos demais nas pesquisas.
Já integrantes dos demais partidos afirmam que Doria não é considerado uma opção pelo grupo hoje –e que o ex-governador de São Paulo está ciente disso.
Sua inviabilidade, no entanto, não é encarada como uma adversidade entre os tucanos que veem na candidatura de Doria uma âncora para o atual governador paulista, Rodrigo Garcia (PSDB), que tentará se reeleger.
Se Doria perder a cabeça de chapa da terceira via, o raciocínio é o de que o PSDB, em compensação, terá mais espaço para construir a candidatura de Rodrigo, que também tem MDB e União como aliados principais. Interlocutores do governador, porém, afirmam que ele não conspira contra o antecessor.
As dificuldades do tucano nesta semana vão ao encontro da avaliação do grupo do ex-governador Eduardo Leite (RS) que embasou sua carta de apoio a Doria –a de que o paulista vai se inviabilizar sozinho e, sobretudo, enfrentará resistência de aliados de Rodrigo, que querem blindá-lo da rejeição do antecessor.
A carta, que foi comemorada como uma desistência do rival por Doria, não encerrou a polêmica. Em inserções comerciais do PSDB no RS, Leite afirma que é preciso fazer "um só Brasil", mantendo o tom de candidato nacional.
Nesta terça, Doria afirmou que a situação está "pacificada dentro do PSDB" após a carta e disse ter tranquilidade de que Araújo irá representá-lo bem na negociação com os demais partidos.
Doria voltou a dizer que sua candidatura não representa interesses pessoais ou partidários, mas o interesse do país de romper a polarização.
Doria e Leite jantariam juntos em Brasília nesta terça.
Ao não se colocar como um obstáculo para Doria e anunciar seu apoio a ele, Leite pretendia que a a divisão provocada por ele não fosse vista como a causa de eventual derrota do PSDB entre os partidos da terceira via.
Em entrevista ao UOL, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), aliado de Leite, afirmou que Araújo e Rodrigo trabalham para que o PSDB não tenha candidato à Presidência, o que facilitaria a reeleição do governador em São Paulo.
O próprio governador, em entrevista ao G1, defendeu que a unidade do centro defina uma candidatura e disse que a carta de Leite amenizava a divisão no partido "por pouco tempo".
por Julia Chaib e Carolina Linhares | Folhapress